sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Aviso Maia

Apontamento solto
                                                           – A Reinvenção do último milênio

O homem caminha sobre a linha do tempo e da cultura, na corda bamba da ciência e dos seus conceitos pré-conceituados, entre a angústia da influência e a necessidade de originalidade e primazia, nas fronteiras entre o metafísico e o que chamamos realidade. A partir da convicção da hibrida relação dos indivíduos inter e intra-subjetiva, apreende-se que o conjunto de cosmologias e cosmogonias tão diferentes produzidas por diversas culturas e díspares costumes propõem a reflexão da implosão da hegemonia da sociedade ocidental.

Em séculos que a verdade vive a ser absoluta, a realidade tão arbitrária, a natureza furiosa quão violenta, o estado ainda mais autoritário quanto repressivo e as portas para a transcendência obnubiladas pela hegemonia da reprodução, a sociedade esse ente hibrido por não dizer complexo, embriaga-se no consumo e vislumbra, na vigília entre o prazer e o luxo, os escombros de toda a ruína metodicamente culturalizada nas estantes e prateleiras universais de toda a materialidade da produção intelectual hodierna.   

É o momento em que o indivíduo descobre que o marco do seu estar na terra é usufruto de sua natural organicidade a mesma, e o homem, possivelmente, o exemplar mais bem acabado da natureza, quiçá dizer, prova cabal da expansão e desenvolvimento intelectual, e o que é mais importante, num processo de alargamento e expressão coletiva, desde o tempo dos clãs e das tribos, das sociedades onde os livros ainda não existiam, eram e continuarão sendo as formas de organização e modos de produção social grupista que conseguiram o êxito de se perpetuarem.

Desde a matriz antropológica mais ancestral, sejam os aborígines na Austrália ou mesmo, o profético povo Maia do continente americano, até a época vigente entende-se o principio axiomático da existência humana como a relação direta entre a vida e suas lacuna então supridas por respostas metafísicas e existenciais, mas que por sua vez logravam êxito no organograma social, pois que sua ação e difusão nas consciências são realizadas através do sistema de representação do simbólico como no caso dos totens. Que são expressões ou caracteres sociais que permitem ao sujeito coletivo determinado entendimento do real – representado na cultura – e suas manifestações na perspectiva do indivíduo.

  Bispar o crepúsculo pela fenda de uma sabedoria que é a ilusão de que qualquer um dos homens possa explicar a vida ou ser deus se acaso ele existisse; nesse momento o indivíduo encontra-se com as fronteiras do infinito, o todo anterior é proibido, só talvez um último reflexo fugindo do espelho em estilhaços da modernidade, desta malfadada projeção do desenvolvimento humano, neste momento, onde a onda se erige e se parte, e se recente de não haver sido. Pois que, ainda que o artista pereça diante da arte, uma ação intelectual só pode ser combatida com outra, enquanto a multidão semi-infinita de homens que se proliferam pelo planeta, não se apercebe de que a última das máximas da condição humana tende a ruir.

O civilizar-se, isto é, tomar para si do corpus social as mais diversas e plurais influências, é parte do projeto de funcionamento da sociedade, pois que esta possui um fim em si mesma, propiciadora das circunstâncias, predecessora do arquiteto, esse ente inerente a essência humana, o que de sobremaneira determina o limite das interações societais e do individuo a mercê de si. Assim o solipsismo comanda a fundação de cada personalidade em si, do descobrimento do eu pelo indivíduo, e sem pestanejar apostaria que é a representação mais aguda da nossa forma de organização social atual, narcisista e sistematicamente individualista. Tendo como pressuposto este desolador cenário, o epílogo só poderia se constituir de um monólogo sem sombras, mas com certeza repleto de fantasmas e incontáveis espelhos que se refletem.

Não obstante, a razão que o esforço precede e produz o pensamento, tal qual antecede à prosa, a poesia, arte imarcescível e indubitável esboço da busca pelo estratagema social mais adequado para a explicação dos fenômenos sociais, assim como a arte das palavras na sua operação obscura “entre o ser e o nada” desfaz ecos entre o individuo e seu outro contido, permite que através do desvelamento das combinações e o rearranjo das probabilidades, ocorra um eqüidistante paralelo estrutural entre a articulação da linguagem e sua representação com o todo circundante.

 A mediação entre a ordem e a operação, é o princípio heurístico no qual o leitmotiv antroposociológicos, econopolíticos e transculturais se resguarda na consubstanciação das cores da época em suas diversas matizes e seus mais diversos aspectos, que recolhidos a um canto da racionalização descolam a consciência fazendo-a decolar em direção a eternidade do indivíduo em sua infinita finitude, descontinua, decomposta entre a última estrela que caiu, e o fio de luz que se escorre do crepúsculo. 


A humanidade destrói/transforma a natureza para torná-la na contracorrente da ordem, erigindo o caos anterior para reconstruí-la num plano superior.  À desestruturação operada no corpus social pela figura do intelectual precede uma reestruturação de uma nova ordem. A atual influência gravita em torno do ser-se a civilização, de balizar a alegoria social em habictus, e reproduzir seus costumes e crenças, é construir-se em bases outras se alheando num per si sem sentido que no “eu”, prenhe de outros tantos, instaura-se a “persona coletiva” e suas multifacetas ante as  interfaces do paradigma societal contemporâneo.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Intelectuais: os outsiders e a desestabilização do status quo.


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 – Deve-se distinguir-se os intelectuais, o intelectualismo e a intelligentsia. O pensamento humano, não é moderno europeu ocidental, mas sim a crítica do Ocidente, como demonstrou Edward Said ao observar as relações entre orientalismo, cultura e imperialismo.

“As culturas estão entrelaçadas demais, seus conteúdos e histórias demasiadamente interdependentes e híbridos para que se faça uma separação cirúrgica em oposições vastas e sobre tudo ideológicas como Oriente e Ocidente.”

“Com efeito [...] antes de mais nada, falar de intelectuais precisamente como aquelas figuras cujo o desempenho público não pode ser previsto nem forçado a enquadra-se num slogan, numa linha partidária ortodoxa ou num dogma rígido (...) O que tentei sugerir é que os padrões de verdade sobre a miséria humana e a opressão deveriam ser mantidos, apesar da filiação partidária do intelectual enquanto indivíduo, das origens e de lealdades ancestrais. Nada distorce mais o desempenho público do intelectual do que seus floreios retóricos, o silêncio cauteloso, a jactância patriótica e a apostasia retrospectiva e autodramática (SAID, p. 12, 2005).  
                                                                                               ***

 – Ao considerar o reconhecimento da “interação entre universalidade e o local, o subjetivo, o aqui e agora” o autor palestino indica que esta mútua influência forma nas “modernas sociedades de massas o homem vulgar, os subúrbios, o gosto, a classe média”, reafirmando que “o terreno social é não apenas diverso, mas muito difícil de negociar”. Cabe ainda apontar que desenvolver trabalho intelectual, ou a vocação intelectual, é ter as escolhas concretas abertas.

“são os intelectuais que deveriam questionar o nacionalismo patriótico o pensamento corporativo e um sentido de privilégio de classe, raça ou sexo (...). Não há regras por meio das quais possam saber o que dizer ou fazer, nem para o verdadeiro intelectual secular há deuses a serem venerados e a quem pedir orientação firme (SAID, p.13,2005).

 “todos os intelectuais representam alguma coisa para seus respectivos públicos, e dessa forma, se auto representam diante de si próprios.”

“Seja uma acadêmico, seja um ensaísta boêmio, ou um consultor do Departamento de Defesa, o intelectual faz o que faz de acordo com uma ideia de representação que tem de si mesmo fazendo essa coisa: pensa em si próprio como fornecedor de conselhos “objetivos” em troca de pagamento, ou acredita que o que ensina aos alunos tem um valor de verdade, ou se vê como uma personalidade advogando uma perspectiva excêntrica, mas consciente?”
                                                                      
                                                                                            ***

Fica-nos a indagação:

– Onde está a consciência do intelectual?

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SAID, Edward. Representações do intelectual: as Conferências Reith de 1993. Tradução: Milton Hatoum. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

*(Obs.: Informo que, diversamente do livro do qual me ative para as notações acima,  improvisadamente me utilizei da imagem da capa da edição lusa, para o livro de Said editada pela Colibri, organizada pela Maria Teresa Seruya, em 2000.)

Advertência? Pergunte à Teoria...








O complexo paroxismo entre ação, práticas, (estratégias), agência e estruturas busca solução na empiria. Os expedientes da teoria social se estabilizaram durante o século 20 através de diversas formas de observação e análise da vida social, entre outros se destacaram: a Sociologia Figuracional, o Interacionismo Simbólico e a Teoria Crítica. Além de trabalhos notáveis de sociólogos como Anthony Giddens e Pierre Bourdieu, as teorias da Governabilidade, a Sociologia do Risco alcançam projeção no horizonte de uma sociologia da norma.Se do ponto de vista da ciência, a teoria é uma chave de leitura para os problemas sociais, por outro lado, é também uma forma de advertência interpretativa quanto a realidade em observação. Nesse sentido, para o teórico, não basta apenas a familiaridade com autores, mas sim o desenvolvimento de uma relação intima entre teoria e pesquisa. O “estilo” da perspectiva sociológica depende diretamente de implicações teóricas, ou seja, modos de observar e fazer pesquisa. O encontro entre as tradições teóricas com a atividade empírica coloca o sociólogo contemporâneo em dialogo recursivo com esta ou aquela tradição. No reconhecimento da teoria enquanto orientação por meio de planos, modelos, roteiros e formas de olhar o mundo, já que um fenômeno social só é problema sociológico se considerado do ponto de vista uma teoria social. A teoria que ora tomada enquanto ferramenta(?) ora enquanto processo de instrumentalização da razão responde a uma posicionamento a cerca  das relações com os valores e ideologias no contexto de pesquisas cientificas.

A interpretação é um recurso da realidade.



                                                                                                
E como tal, também é objeto de reinterpretações, como o exemplo da história vista de baixo, realizada por E. P. Thompson. O enfrentamento entre a cultura e os costumes, desdobra a singularidade cultural da elite e a pluralidade do povo. Numa crítica a universalidade, o concreto histórico se mostra nem tão concreto assim, em meio as turbas da tradição e da contra-tradição.

Nesse contexto o autor inglês identifica uma forma social característica que ele denomina “economia moral”, encontrada no folclore, na cultura popular, na tradição e na acenstralidade. Argumentando que inclusive motins e saques envolvem questões morais.


Num processo de ressignificação da economia social, apresenta uma interligação entre superestrutura e infraestrutura pela disciplina do trabalho e entende as classes sociais como formação social, ou seja, um fenômeno histórico e cultural. 

terça-feira, 26 de agosto de 2014

A imaginação é a razão emancipatória?







As quartas, frequento um grupo de estudos em teoria crítica. Trazem a baila: emancipação e liberdade, contra dominação e justiça. Em busca de um diagnóstico da sociedade na história; de um prognóstico, em desenvolvimento no tempo, para superação dos obstáculos e transformar o real.

– Onde estão os portadores da racionalidade emancipatória? – pergunta o Professor Jorge Adriano  Lubenow, indicando uma crise na crítica.

– Eu então disse: ora, se não com os indígenas e quilombolas, a sabedoria popular, tradicional, os mestres, griôs, etc ... E essas práticas (momentos em que a teoria pode ser apercebida no real)  tem como resultante embates e conflitos.


– E o método da teoria crítica? Filosófico ou Sociológico? “o concreto pensado”?                                            
O Instituto, a Revista, os Pensadores, a História e, principalmente, a Leitura e a "imaginação dialética"  são o método da Escola de Frankfurt.

“Duelo y Literatura”, Idelber Avelar.



                                                     A palestra pode ser ouvida aqui.
                                         

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Da empíria foi extraída a teoria, todo o outro é memória.(1ª Parte)

Em março deste ano tive conhecimento, através do espaço espanhol ssociologos,   de uma entrevista que o sociólogo inglês Anthony Giddens concedeu a  Marina Artusa, em Bologna.

É este abaixo o título do matéria:

"Europa no cree en ilusiones 
Ciencia política. Anthony Giddens analiza en esta entrevista los desafíos que enfrentan Latinoamérica y Europa para instrumentar un estado de bienestar.

O artigo havia sido publicado na página da Revista de Cultura, na sesseão Ideas, do periódico argentino Clarín. Datação de  06/03/14. Que pode ser lida aqui. 

Segue um excerto: 

En América Latina uno ve marchas en las calles y lo mismo ocurre en Europa. Tenemos que ver, además, hacia dónde va a ir la economía mundial. A Brasil le estaba yendo muy bien, aunque ahora ya no tanto; 

“as máquinas han entrado en nuestra personalidad. (...) Imagínese lo terrorífico que es eso. Es como si la ciencia ficción hubiera sido copada por la realidad. Es imponderable. Ya no se puede utilizar más el pasado como guía para el futuro.”

Pero no creo que lo narrativo tenga significado alguno.

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POR ENQUANTO, COM VISTAS À TEORIA...

Depois de reconhecer a Lógica Social do Espaço-território em que a sociologia acontece, acredito que caiba bem aqui abaixo dessa entrevista, um passar de vistas sobre a um prisma de sua obra. Começo com a primeira parte dos comentários sobre a leitura ausente. Comento uma obra que muito me intriga no conjunto dos trabalhos de A. Giddens. Em A Constituição da Sociedade (1989), o pensador social inglês desenvolve um intrincado complexo interpretativo entre as noções de estrutura social e instituições sociais sob a visão de uma Sociologia Política de fundo psicossocial que desemboca em sua Teoria da Estruturação. Para discutir a dualidade entre agência e estrutura o autor aponta que os “atores internalizam, como motivos, os valores compartilhados de que depende a coesão social.”

Na busca por maiores explicações Giddens se justifica da seguinte forma: “O pedido de uma explicação da ação acaba fundindo-se com a exigência de ligar uma teoria “psicológica” de motivação com uma “interpretação” sociológica das características estruturais de sistemas sociais.”

Nesse intuito a noção de cognoscitividade é aproximada da definição de uma ontologia do ser social, enquanto característica constitutiva da vida em sociedade. Numa crítica a Parsons e seu funcionalismo, o inglês o baseando-se em Luhmann e Habermas, aponta no americano um consenso de valores na ordem simbólica sustentado numa visão evolucionista e biológica.

Na apresentação dos elementos de sua teoria da estruturação, diferencia as formas do funcionalismo, estruturalismo das outras sociologias hermenêuticas, aproximando as primeiras de um naturalismo que visa um objetivismo tomando a biologia como modelo na esteira de Comte numa “guia para conceituar a estrutura e o funcionamento de sistemas sociais, assim como para analisar processos de evolução via mecanismos de adaptação”. (p.1)

 Ainda que Giddens desconsidere Levis-Strauss como evolucionista, assevera que “a homologia entre ciência social e ciência natural é primordialmente cognitiva, na medida em que se supõe que cada uma expressa características similares da constituição global da mente” (idem). Sobre a hermenêutica, de origem naquele humanismo preconizado por Dilthey, o autor nos diz: “a subjetividade é o centro previamente constituído da experiência de cultura e história, e como tal fornece o fundamento básico das ciências sociais e ou humanas” (idem). Fechando o raciocínio com os binômios do mundo material e subjetividade, vistos sob noções de causa e efeito e mistério e residual, respectivamente.

Assim essa epistemologia que “nas sociologias interpretativas é concedida primazia a ação e ao significado na explicação da conduta humana; os conceitos estruturais não são notavelmente conspícuos e não se fala muito de coerção” (p.1-2) Logo, essa ontologia da ação frente ao funcionalismo/estruturalismo revela que “a questão é como os conceitos de ação, significado e subjetividade devem ser especificados e como poderiam ser relacionados com as noções de estrutura e coerção”(p.2) Onde a estruturação são “práticas sociais” ordenadas no espaço e no tempo”.

Essas práticas, atividades recursivas (recriadas) são os moventes dos atores e agentes em ação social. Nesse sentido, cognoscitividade “é a forma especificadamente reflexa da cognoscitividade dos agentes humanos que está mais profundamente envolvida na ordenação recursiva das práticas sociais” (idem). É claro que ao indicar essa espécie de ordenação Giddens nos faz pensar em alguma forma de estrutura.

No entanto, ele segue em sua exposição “logo, a “reflexividade” deve ser entendida não meramente como “autoconsciência”, mas como o caráter monitorado do fluxo contínuo da vida social” (idem). Categorias como “propósito”, intenção, motivo, razão, voluntarismo hermenêutico são utilizados para a “contextualidade espaço-tempo”, indicando a razão enquanto um processo e um estado.

A consciência é vista a partir de conceitos como “durée”/”self” – momento discursivo da atenção – no sentido de permitir que “uma ontologia de tempo-espaço como constitutiva de práticas sociais é básica para a concepção de estruturação, a qual começa a partir da temporalidade e, portanto, num certo sentido da história.”

Com o despertar do processo de “racionalização da ação” envolto em intencionalidade e rotina o estado de “co-presença” indica o entendimento da interação enquanto o instante de avaliação da competência. Se as normas formam fronteiras factuais passíveis de manipulação e abrem espaço para a dissimulação da razão, Schultz é evocado para configurar a visão sobre o conhecimento socialmente incorporado, enquanto estoque de conhecimento mútuo.

De forma que a “estratificação do self atuante” enquanto dimensão inconsciente se apresenta como lugar do encontro (jogo) da consciência discursiva e da consciência prática. Numa crítica a Freud, Giddens indica que a visão freudiana “não deixa capo suficiente para a operação das forças sociais autônomas”. Ou seja, “o inconsciente inclui aquelas formas de cognição e de impulsão que estão ou totalmente impedidas de consciência ou somente aparecem na consciência de formas distorcidas.” (p.4)
Frente a uma noção não muito clara de profundidade, ou abismos, no interior da “história de vida do ator individual” a operação de forças sociais autônomas seria mediada pelo “nível de controle dos agentes sobre a própria conduta” o que pode ser observado pelo grau de interação e integração ordenada pelas instituições socialmente reconhecidas e coletivamente compartilhadas.



O AGENTE; A AGÊNCIA

O monitoramento das práticas sociais, sob a visão da rotina – cotidiano – dando margem ao entendimento teórico de um contínuo histórico. Essa monitoração reflexiva, tomada como racionalização da ação articula razão, motivo e necessidade, a partir do potencial derivado da noção de projeto de Schultz. Partindo em direção da consciência prática por meio de uma Fenomenologia e Etnometodologia, voltada para a Filosofia da Linguagem na observação da socialização e da aprendizagem chega a considerar barreiras (repressão) entre consciência discursiva e o inconsciente. A modelagem freudiana (id-ego-superego) é entendida sob o prisma: eu-mim-tu. Onde o mim é uma expressão da “consciência moral” – resultado da dialética entre consciência discursiva e o inconsciente mediado por valores, crenças, etc.

Recuperando Durkheim de O Suicídio, Giddens interpreta a agência como aquele fenômeno que acontece, ou faz acontecer. Enquanto o agente é o perpetrador da agência, ou seja, alguém que exerce poder ou produz um efeito de ação. Num “efeito acordeão” a ação é relacionada à exterioridade do social numa relação de composição com a intencionalidade, ou melhor, com a capacidade de conhecer ou desejar o desfecho interrelacionando o fazer, pretender e o efeito esperado pela agência. Ainda que considere que consequências não pretendidas não estariam ao alcance do poder do agente frente a questões de espaço-tempo.


Nesse sentido, o inglês pontua que “na maioria das esferas da vida, e das formas de atividade, o âmbito do poder de controle limita-se aos contextos imediatos de ação ou interação”(p.9). Numa crítica a R. Merton, Giddens ao avaliar as ações não-intencionais ou impremeditadas aproxima a intenção da previsão frente a noção de ações imprevistas de Merton. No avanço de sua crítica ao pensador americano Giddens aponta que as consequências impremeditadas e as práticas institucionalizadas têm haver com a necessidade (carência) vistas frente às consequências e condutas irracionais que se atrelam a superstições irracionalidades ou mera inércia fundamentada pela tradição, são reflexos de impulsos motivacionais que indicam uma relação dinâmica entre motivo e intenção. Ainda que considere o “famoso” argumento contrafactual de Weber, sob a forma do “se” , Giddens reafirma que esta forma da ação é “a consequência impremeditada de um agregado de cursos de conduta intencional”.(p.10)

à crítica forma e a forma da crítica.




E toda tradição manifesta-se através de uma cultura. Cultura que envolve relações de poder e desigualdade. Alguém na sala se lembra do livro “ O que é Cultura” de José Luis dos Santos, Eu em silêncio penso naquele livro do Laraia ou na Dialética da Colonização de Alfredo Bosi. Sandroni é mencionado por acaso.

Cultura, espírito. 

A barca, o coco, o cavalo marinho, o maracatu, a Biblioteca do Congresso dos EUA, o Centro Cultural São Paulo; cultura- agricultura. Cultura popular tradicional (noção bem curiosa). O dó de peito, uma dissonância consoante contemporaneamente compartilhada na experiência social. Através da cultura se retorna a natureza. Cruzando as esferas do volk, cultura e arte, atinge-se um saber que possa aproximar os homens. Como uma pedra filosofal do elo perdido entre a os homens e sua identidade com a humanidade, é a crise do paradigma do humanismo, o maquinismo do esquecimento.

              Daí que chamo atenção para fatores como o narrador, quem narra a cultura? Onde está a narrativa das formas sociais da modernidade?

[Quem faz da academia e da ciência um projeto social, deixa de lado os fundamentos do trabalho intelectual.]


              Hegemonia e repressão, convencimento e violência. A ideologia dominante (racionalismo, religião e racialismo) esqueceu-se humanismo, e a lembrar de ter memória. Assim combate o pensamento crítico com qualquer ensaio sobre o eu e qualquer assunto; é sempre uma porta aberta o que diz. Por isso é mister estar atento à crítica forma e a forma da crítica.

BRASIL: uma sociedade contra o estado.




Há muito tempo eu queria ler o Pierre Clastres. Desde quando numa aula de antropologia II, a professora Suzana maia, informou-nos sobre a existência deste autor e sua visão baste incomum e bem crítica sobre as noções clássicas de evolucionismo cultural. Mas enfim, por razões diversas só agora consigo passar pela leitura de A  Sociedade Contra o Estado.

Para ser direto, no último capitulo que leva o mesmo nome da obra, antes da entrevista com o autor, Clastres nos apresenta uma visão bastante original para uma Antropologia Política capaz de compreender as relações modernas e contemporâneas entre a Sociedade e o Estado, partindo da analise das sociedades ditas primitivas, como a exemplo dos índios Tupi-Guarani presentes no litoral brasileiro, além de outros povos como os amazônicos e apaches.

A democracia, esse consenso dissimulado, para retomarmos por ora a noção de hegemonia de Antônio Gramsci, indica para a o debate sobre a necessidade do Estado, o qual Clastres realiza a partir da compreensão sobre este processo de totalidade, dentro da qual as sociedades ameríndias são vistas como incompletas. A sociedade “policiada”, ou seja, a sociedade com Estado, nesse caso pré-colombino não seria necessário.

Ao contrário, o pensamento ocidental define que “[...] o Estado é o destino de toda sociedade”, numa espécie de “fixação etnocentrista” segundo o autor como algo inconsciente (CLASTRES, 2003, p.207). Exemplifica com a ideia de que existe com a modernidade a crença “[...] de que a sociedade existe para o Estado”(idem). Nesse momento pensa-se a crítica à noção das sociedades ameríndias como formas sociais “à margem da história universal” retomando a desconstrução de uma história linear em um “sentido único”, como ao modo dos evolucionistas para os quais “ toda sociedade está condenada a inscrever-se nessa história e a percorrer as suas etapas que, a partir da selvageria, conduzem à civilização”.(CLASTRES, 2003, p. 208).

A arbitragem da forma social do Estado como condição para a noção de civilização[1], conduz ao questionamento sobre o que mantém os “últimos povos ainda selvagens”? O que permanece? O que tem continuidade nessas comunidades mesmo com a chegada dos Europeus?

Por trás das velhas formulações modernas, o velho evolucionismo permanece, na verdade, intacto. Mais delicado para se dissimular na linguagem da antropologia, e não mais da filosofia, ele aflora, contudo ao nível das categorias que pretendem ser cientificas. Já se percebeu que, quase sempre, as sociedades arcaicas são determinadas de maneira negativa, sob o critério da falta: sociedades sem escrita, sociedades sem história (CLASTRES, 2003, p. 208).

Explana-se sobre uma crítica da economia política, incluindo nessa esteira de faltas, o mercado. Mas indaga o autor: “para que serve um mercado, se não há excedentes?” Para justificar as ausências como déficits, o discurso ocidental argumenta em favor da “inferioridade tecnológia”, já que o uso de um subequipamento técnico não permitiria aos indígenas escaparem da “alienação permanente na busca por alimentos”.

Para pensar o conceito de técnica, assim como aparece na Dialética do Esclarecimento, Clastres  entende “o conjunto de processos de que se munem os homens, não para assegurarem o domínio absoluto(isso só vale para o nosso mundo e seu insano projeto cartesiano  cujas consequências ecológicas, mal começamos a medir), mas para garantir um domínio do meio natural adaptado e relativo às suas necessidades, então não mais podemos falar em inferioridade técnica das sociedades primitivas: elas demonstram uma capacidade de satisfazer suas necessidades pelo menos igual  àquela de que  se orgulha a sociedade industrial e técnica.” (p. 209). Conclui-se então tanto pela Teoria Crítica quanto por essa antropologia política que “todo grupo humano chega a exercer, pela força, o mínimo necessário de dominação sobre o meio que ocupa” (idem).[2]

Nesse sentido, “Basta fazer uma visita aos museus etnográficos: o rigor de fabricação dos instrumentos da vida cotidiana faz praticamente de cada modesto utensílio uma obra de arte” (idem). Assim extingue-se a noção hierárquica no que diz respeito às técnicas e tecnologias sociais dos povos. “A potencia de invocação técnica testemunhada pelas sociedades primitivas desdobra-se sem dúvida no tempo. Nada é fornecido de uma só vez, há sempre o paciente trabalho de observação e de pesquisa, a longa sucessão de ensaios, erros, fracassos e êxitos” (p.idem). Cabe pontuar que “a descoberta da agricultura e a domesticação das plantas são quase contemporâneas na América e no Velho Mundo. E impõe-se constatar que os ameríndios em nada se mostram inferiores.”




[1] Pensar o conceito de civilização: Le Goff, Braudel.
[2] “Até agora não se tem conhecimento de nenhuma sociedade que se haja estabelecido, salvo por meio de coação e violência exterior, sobre um espaço natural impossível de dominar: ou ela desaparece ou muda de território.”(p.209)

Cosmologia Ameríndia


domingo, 24 de agosto de 2014

Caeiro Contra-tradição/ Reis: Tradição/ Campos de Modernidade eTransfiguração das formas sociais.




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O que principalmente tenho feito é sociologia e desassossego.

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Quanto a sociologia, além de ter acrescentado alguns raciocinios e analises à minha "Teoria da República Aristocrática", tenho deliberado teorias várias sobre a guerra presente e sobre as  forças vivas, nacionais e civilizacionais em ação. Creio ir me aproximando de uma interpretação do conflito com visos de verdadeira, ou, pelo menos(sejamos um pouco céticos), de plausível.

O fato é que neste momento atravesso um período de crise em minha vida. Preocupa-me quotidianamente a necessidade de dar ao conjunto da minha orientação, tanto intelectual como "existente na vida", uma linha metódica e lógica. Quero disciplinar a minha vida (e, consequentemente, minha obra) como a um estado anárquico e anárquico pelo próprio excesso de forças vivas em ação, conflito e evolução interconexa e divergente.Não sei se estou sendo perfeitamente lúcido. Creio que estou sendo sincero. Tenho pelo menos aquele espírito que é trazido pela prática antisocial da sinceridade. Sim eu devo estar a ser sincero.

                                                                                                     Lisboa, 2 de setembro de 1924 *.

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PESSOA, Fernando. Obras em Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1990. P.45-46 "
* Carta à Armando Cortês Rodrigues.

Outra opinião



Enquanto a fria racionalidade da sociologia estatística é o disciplinado esforço do sociólogo metódico de dar a sociedade uma rara explicação que satisfaça um consenso qualquer.

                                                          A narrativa sociológica é um recurso ao esgotamento. (das contradições?)

Por uma razão imanente







A sociologia é a conversão da experiência e da tradição em linguagem capaz de simbolizar as formas do fenômeno no tempo. É um plasma germinativo de imaginações e racionalidades. É o estado de imanência de uma “assemblage” criativa contra a inibição da experiência e da sua percepção. Um agenciamento coletivo do animismo, do ancestral pelo corpo narrativo da linguagem, assim como um tambor é um corpo. A sociologia é uma dês-razão e é uma ética crítica do pensamento, contra a repressão colonial no plano micropolítico e contra os mitos ocidentais  no plano de uma construção histórica.

Fotografia



As fotografias de João Ripper desafiam estereótipos. Ressaltando o poder das fotografias de criar a imagem e representação. Sobre o conjunto de fotógrafos da Maré ou Raton Diniz na Favela de Manguinhos. O fotografo cita um livro, Mulheres que correm com Lobos, e imagem de D. Olga denuncia o trabalho escravo. Ainda haveria oficinas a tarde.


O Índio Xavante, Tembé. O Massacre Mucatu. Enfim, um Acervo Indígena, Mata Seca, Ibicuí, Ipuarama, Taquatiara, Ingá, Cariri. Segundo a Fundação Palmares há mais de 38 comunidades quilombolas.





Por uma sociologia indígena

Saímos cedo debaixo de chuva. Júnior me trouxe até a Estação Ciência para acompanhar o último dia do Seminário: Séculos Indígenas. 
Evento que trata das questões que envolvem o empoderamento da população indígena de seus direitos e questões ligadas a terra, a violência, bem como sobre a aplicação da lei 11.645 que diz respeito à implementação da história indígena nas escolas. 

Enfrentamos uma chuva incomum, o vidro do carro embaçado, a ansiedade. Tínhamos que chegar lá pra que Jr. conseguisse voltar para chegar ao trabalho.


Arte: André Vallias


Êhhh! Caboclo de pena.   
                                                                                                                     Êhhh! Deus Tupã.

O Capitão, potiguara, fala sobre as leis de demarcação. Entre Estevão, professor da pós-graduação em Antropologia, Lúcia Guerra, a aparição do fotógrafo João Ripper, contextualizam o ponto posto sobre a relação: terra e violência.

São invocados os xucurus de Pernambuco, Cacique Chicão, Marquinhos xucuru, Cacique Babau, tupinambá de Olivença, próximo a Boirarema e Ilhéus, no sudoeste da Bahia, os tuxá de rodelas, outros povos da terra indígena de São Miguel, na Baía da Traição. Potiguara, Tabajara. Cacique Aníbal que já houvera lembrado sete tiros, e mesmo assim ainda não havia morrido, foi lembrado junto com cacique Guego.

Ailton Krenak se posiciona acerca do capitalismo, como guerra e genocídio, transformando a relação da sociedade ocidental com os índios no processo em que se dá o aldeamento e formação de campos de concentração.

– Recorro a um poema de Aimé Cesaire. 
       Assisti o debate pela manhã e agora aguardo o recomeço da sessão vespertina. 
Enquanto isso, Eu começo a ler sobre Langston Hughes. Vaga a leitura sobre Claude Mckay, poeta Jamaicano, Jaques Hormain, caribenho, Nicolás Gullén Cubano, Laurence Dunbar e sua Ode à Etiópia. Penso no acompanhamento para a leitura de “The Weary Blues”. No Harlem nasceu um Shakespeare. Langston é o Hamlet negro.

Os Ianomâmi da Venezuela. São exemplos de confisco linguístico e do sistema religioso.

Fala-se da Barra do Gramame. (Algum tempo depois cheguei a ver com os próprios olhos o encontro do rio com o mar, no extremo oriente do continente, como se daqui pode-se fazer o caminho inverso do colonizador).

Reaparece-me – A lembrança da leitura de Todorov, A conquista da América. E no fundo de tudo isso, o mito, o rito e a reverência xamanística. (acabei a usar rapé soprado pelo cacique Álvaro Tukano ).
Continuo, meditando e me perguntando sobre “A História dos Homens” e o roubo da história dos Guarani-Kayóa e das narrativas potiguaras.

Avança cada vez mais o reconhecimento de que o Brasil é um Estado inventado. Aldeia Maracanã. Tapeba, Fortaleza. Na transfiguração entre a modernidade e o Brasil Profundo, persiste o oximoro: Terra X Território. Aí parecem em cena, o SPI- o sistema de proteção aos índios e outras entidades como a FUNAI e o ISA.




A ossatura do argumento





Retornamos ao entrelaçamento das narrativas de comunidade, autores, teorias, conceitos, líamos um sociólogo da Escola de Chicago, ou os Chicago Boys, como diria Bourdieu. Era uma quinta-feira para observar a educação e iniciação à uma comunidade, uma conversão.

Entre tipos ideais e abstração, comunidades culturais e estados-nação... e América do Sul?


A elite de filósofos, economistas, juristas e também o marxismo italiano e outras modernidades. A suspensão da ética social por uma moral secular foi um dos pontos flagrantes da fragmentação da modernidade; depois de Aristóteles e Hobbes, e aos poucos a ossatura do argumento, a tradição.