– Deve-se
distinguir-se os intelectuais, o intelectualismo e a intelligentsia. O pensamento humano, não é moderno europeu
ocidental, mas sim a crítica do Ocidente, como demonstrou Edward Said ao
observar as relações entre orientalismo, cultura e imperialismo.
“As culturas estão entrelaçadas demais, seus conteúdos e
histórias demasiadamente interdependentes e híbridos para que se faça uma
separação cirúrgica em oposições vastas e sobre tudo ideológicas como Oriente e
Ocidente.”
“Com efeito [...] antes de mais nada, falar de intelectuais
precisamente como aquelas figuras cujo o desempenho público não pode ser
previsto nem forçado a enquadra-se num slogan, numa linha partidária ortodoxa
ou num dogma rígido (...) O que tentei sugerir é que os padrões de verdade
sobre a miséria humana e a opressão deveriam ser mantidos, apesar da filiação
partidária do intelectual enquanto indivíduo, das origens e de lealdades
ancestrais. Nada distorce mais o desempenho público do intelectual do que seus
floreios retóricos, o silêncio cauteloso, a jactância patriótica e a apostasia
retrospectiva e autodramática (SAID, p. 12, 2005).
***
– Ao considerar o
reconhecimento da “interação entre universalidade e o local, o subjetivo, o
aqui e agora” o autor palestino indica que esta mútua influência forma nas “modernas
sociedades de massas o homem vulgar, os subúrbios, o gosto, a classe média”,
reafirmando que “o terreno social é não apenas diverso, mas muito difícil de
negociar”. Cabe ainda apontar que desenvolver trabalho intelectual, ou a
vocação intelectual, é ter as escolhas concretas abertas.
“são os intelectuais que deveriam questionar o nacionalismo
patriótico o pensamento corporativo e um sentido de privilégio de classe, raça
ou sexo (...). Não há regras por meio das quais possam saber o que dizer ou
fazer, nem para o verdadeiro intelectual secular há deuses a serem venerados e
a quem pedir orientação firme (SAID, p.13,2005).
“todos os
intelectuais representam alguma coisa para seus respectivos públicos, e dessa
forma, se auto representam diante de si próprios.”
“Seja uma acadêmico, seja um ensaísta boêmio, ou um consultor
do Departamento de Defesa, o intelectual faz o que faz de acordo com uma ideia
de representação que tem de si mesmo fazendo essa coisa: pensa em si próprio
como fornecedor de conselhos “objetivos” em troca de pagamento, ou acredita que
o que ensina aos alunos tem um valor de verdade, ou se vê como uma
personalidade advogando uma perspectiva excêntrica, mas consciente?”
***
Fica-nos a indagação:
– Onde está a consciência do intelectual?
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SAID, Edward. Representações do intelectual: as Conferências Reith de 1993. Tradução: Milton Hatoum. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
*(Obs.: Informo que, diversamente do livro do qual me ative para as notações acima, improvisadamente me utilizei da imagem da capa da edição lusa, para o livro de Said editada pela Colibri, organizada pela Maria Teresa Seruya, em 2000.)

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