sábado, 23 de agosto de 2014

A Casa do Porão ao Sotão. O Sentido da Cabana. A gaveta o Cofre e os Armários.

Gaston Bachelard,  nas paredes. Ocupação "É logo ali" num casarão no Ipiranga em São Paulo, Julho, inverno de 2014.



Reconversão





A única possibilidade para as ciências sociais é antes uma postura lúcida da “ciência” diante da cultura; imaginam ter alcançado tal postura os membros do Instituto de Pesquisa Social, o famoso centro-grupo alemão de atividades de filosofia social para a investigação do sistema capitalista, mundialmente conhecido como Escola de Frankfurt, de orientação marxista.

O pressuposto do pensamento desenvolvido por esta equipe de intelectuais tem por fundamento a “teoria crítica” construída a partir do que havia de mais genuíno no conjunto epistemológico e metodológico da obra do também alemão Karl Marx, ou seja, desde a concepção do materialismo histórico, com as devidas adaptações para o século XX, quanto o que de mais rico havia nesta obra, a saber, a sua atitude e potencial de crítica social.

Assim, herdando as premissas marxianas para o intento de abordar até aquele momento, os meados do século passado, especialmente os períodos entre 1940 e 1960, o atual estado do modo capitalista de produção e as formas que assumiam a ideologia, a alienação nas formas da cultura o desenvolvimento teórico e metodológico, filosófico e epistemológico do grupo, formado entre outros por Max Horkheimer e Theodor W. Adorno, legaram para a contemporaneidade visões bastante fecundas sobre a sociedade e suas complexidades.

Nesse sentido, gostaria de destacar aqui por ora, a importância destes estudos para as pesquisas sobre a cultura de massa e as relações entre a arte e a sociedade em nossa época. A partir da emergência de uma crítica estética, preocupada muito mais em observar o conteúdo de sentido objetivo da cultura no universo ampliado do social ao invés de presa a subjetividade dos atores sociais ou aos interesses de classe, indica um caminho para operar uma reconciliação entre imaginário e realidade objetiva. Na seara de uma análise que tenta ao mesmo tempo considerar e superar a crítica paramarxista da cultura, pretendo demonstrar como é possível integrar a crítica estética à sociologia da cultura preservando no seu bojo elementos políticos e sociais, construindo assim um objetivo que transcenda as formas mais conservadas de exposição dos problemas sociais há muito reduzidas a luta de classes ou outra redução grosseira da teoria marxiana.

A investigação de fatos estéticos de forma mais alargada no mundo da cultura devem levar em conta não apenas os aspectos artísticos, mas também as exigências sociológicas. Para tanto gostaria de evocar a figura, a mim, modelar de Walter Benjamin, que também se insere nesse contexto mais de forma bem peculiar. A rigorosidade acadêmica e a anti-sistematicidade ensaística se fundem, no afã de elaborar um texto que possa ser compreendido em sua plenitude, mesmo em suas partes. A totalidade impossível se torna uma medida para articular a complexidade.

Começo a dialogar com trabalhos dos frankfurtianos, e que isso não confunda a interpretação que venho a fazer, mas preciso lembrar que “Desafiar a sociedade inclui desafiar sua linguagem” (ADORNO, Prismas, p.225 apud JAY, 2008, p. 232). É preciso que cada leitor costure o manto de referências, mas devo precavê-lo, o frio está dentro de nós, não adianta se cobrir. A leitura depende da capacidade de construção cognitiva do leitor, ou seja, é uma certa forma de trabalho intelectual metodologicamente orientado para determinada produção de conhecimento. Assim como Benjamin, penso que algumas pessoas são veículos para a “expressão de tendências culturais objetivas”. E para tal fim e efeito é preciso superar o estilo acadêmico normatizado, sustentado por um senso comum universitário. 

Improviso sobre o texto : JAY, Martin. Teoria Estética e a Crítica à Cultura de Massa. In: A imaginação dialética: história da Escola de Frankfurt e do Instituto de Pesquisas Sociais, 1923-1950. Tradução Vera Ribeiro; revisão da tradução César Benjamin. – Rio de Janeiro: Contraponto, 2008.p. 229-280.