Em março deste ano tive conhecimento, através do espaço espanhol ssociologos, de uma entrevista que o sociólogo inglês Anthony Giddens concedeu a Marina Artusa, em Bologna.
É este abaixo o título do matéria:
"Europa no cree en ilusiones
Ciencia política. Anthony Giddens analiza en esta entrevista los desafíos que enfrentan Latinoamérica y Europa para instrumentar un estado de bienestar.
O artigo havia sido publicado na página da Revista de Cultura, na sesseão Ideas, do periódico argentino Clarín. Datação de 06/03/14. Que pode ser lida aqui.
Segue um excerto:
En América Latina uno ve marchas en las calles y lo mismo ocurre en Europa. Tenemos que ver, además, hacia dónde va a ir la economía mundial. A Brasil le estaba yendo muy bien, aunque ahora ya no tanto;
“as máquinas han entrado en nuestra personalidad. (...) Imagínese lo terrorífico que es eso. Es como si la ciencia ficción hubiera sido copada por la realidad. Es imponderable. Ya no se puede utilizar más el pasado como guía para el futuro.”
Pero no creo que lo narrativo tenga significado alguno.
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POR ENQUANTO, COM VISTAS À TEORIA...
Depois de reconhecer a Lógica Social do Espaço-território em que a sociologia acontece, acredito que caiba bem aqui abaixo dessa entrevista, um passar de vistas sobre a um prisma de sua obra. Começo com a primeira parte dos comentários sobre a leitura ausente. Comento uma obra que muito me intriga no
conjunto dos trabalhos de A. Giddens. Em A
Constituição da Sociedade (1989), o pensador social inglês desenvolve um
intrincado complexo interpretativo entre as noções de estrutura social e
instituições sociais sob a visão de uma Sociologia Política de fundo
psicossocial que desemboca em sua Teoria da Estruturação. Para discutir a dualidade
entre agência e estrutura o autor aponta que os “atores internalizam, como
motivos, os valores compartilhados de que depende a coesão social.”
Na busca por maiores explicações Giddens se justifica da
seguinte forma: “O pedido de uma explicação da ação acaba fundindo-se com a
exigência de ligar uma teoria “psicológica” de motivação com uma
“interpretação” sociológica das características estruturais de sistemas
sociais.”
Nesse intuito a noção de cognoscitividade é aproximada da
definição de uma ontologia do ser social, enquanto característica constitutiva
da vida em sociedade. Numa crítica a Parsons e seu funcionalismo, o inglês o
baseando-se em Luhmann e Habermas, aponta no americano um consenso de valores
na ordem simbólica sustentado numa visão evolucionista e biológica.
Na apresentação dos elementos de sua teoria da estruturação,
diferencia as formas do funcionalismo, estruturalismo das outras sociologias
hermenêuticas, aproximando as primeiras de um naturalismo que visa um objetivismo
tomando a biologia como modelo na esteira de Comte numa “guia para conceituar a
estrutura e o funcionamento de sistemas sociais, assim como para analisar
processos de evolução via mecanismos de adaptação”. (p.1)
Ainda que Giddens
desconsidere Levis-Strauss como evolucionista, assevera que “a homologia entre
ciência social e ciência natural é primordialmente cognitiva, na medida em que
se supõe que cada uma expressa características similares da constituição global
da mente” (idem). Sobre a hermenêutica, de origem naquele humanismo preconizado
por Dilthey, o autor nos diz: “a subjetividade é o centro previamente
constituído da experiência de cultura e história, e como tal fornece o
fundamento básico das ciências sociais e ou humanas” (idem). Fechando o
raciocínio com os binômios do mundo material e subjetividade, vistos sob noções
de causa e efeito e mistério e residual, respectivamente.
Assim essa epistemologia que “nas sociologias
interpretativas é concedida primazia a ação e ao significado na explicação da
conduta humana; os conceitos estruturais não são notavelmente conspícuos e não
se fala muito de coerção” (p.1-2) Logo, essa ontologia da ação frente ao
funcionalismo/estruturalismo revela que “a questão é como os conceitos de ação,
significado e subjetividade devem ser especificados e como poderiam ser
relacionados com as noções de estrutura e coerção”(p.2) Onde a estruturação são
“práticas sociais” ordenadas no espaço e no tempo”.
Essas práticas, atividades recursivas (recriadas) são os
moventes dos atores e agentes em ação social. Nesse sentido, cognoscitividade
“é a forma especificadamente reflexa da cognoscitividade dos agentes humanos
que está mais profundamente envolvida na ordenação
recursiva das práticas sociais” (idem). É claro que ao indicar essa espécie de
ordenação Giddens nos faz pensar em alguma forma de estrutura.
No entanto, ele segue em sua exposição “logo, a
“reflexividade” deve ser entendida não meramente como “autoconsciência”, mas
como o caráter monitorado do fluxo contínuo da vida social” (idem). Categorias
como “propósito”, intenção, motivo, razão, voluntarismo hermenêutico são
utilizados para a “contextualidade espaço-tempo”, indicando a razão enquanto um
processo e um estado.
A consciência é vista a partir de conceitos como “durée”/”self”
– momento discursivo da atenção – no sentido de permitir que “uma ontologia de
tempo-espaço como constitutiva de práticas sociais é básica para a concepção de
estruturação, a qual começa a partir da temporalidade e, portanto, num certo
sentido da história.”
Com o despertar do processo de “racionalização da ação”
envolto em intencionalidade e rotina o estado de “co-presença” indica o
entendimento da interação enquanto o instante de avaliação da competência. Se
as normas formam fronteiras factuais passíveis de manipulação e abrem espaço
para a dissimulação da razão, Schultz é evocado para configurar a visão sobre o
conhecimento socialmente incorporado, enquanto estoque de conhecimento mútuo.
De forma que a “estratificação do self atuante” enquanto
dimensão inconsciente se apresenta como lugar do encontro (jogo) da consciência
discursiva e da consciência prática. Numa crítica a Freud, Giddens indica que a
visão freudiana “não deixa capo suficiente para a operação das forças sociais
autônomas”. Ou seja, “o inconsciente inclui aquelas formas de cognição e de
impulsão que estão ou totalmente impedidas de consciência ou somente aparecem
na consciência de formas distorcidas.” (p.4)
Frente a uma noção não muito clara de profundidade, ou
abismos, no interior da “história de vida do ator individual” a operação de
forças sociais autônomas seria mediada pelo “nível de controle dos agentes
sobre a própria conduta” o que pode ser observado pelo grau de interação e
integração ordenada pelas instituições socialmente reconhecidas e coletivamente
compartilhadas.
O AGENTE; A AGÊNCIA
O monitoramento das práticas sociais, sob a visão da rotina
– cotidiano – dando margem ao entendimento teórico de um contínuo histórico.
Essa monitoração reflexiva, tomada como racionalização da ação articula razão,
motivo e necessidade, a partir do potencial derivado da noção de projeto de
Schultz. Partindo em direção da consciência prática por meio de uma
Fenomenologia e Etnometodologia, voltada para a Filosofia da Linguagem na
observação da socialização e da aprendizagem chega a considerar barreiras (repressão)
entre consciência discursiva e o inconsciente. A modelagem freudiana (id-ego-superego)
é entendida sob o prisma: eu-mim-tu. Onde o
mim é uma expressão da “consciência moral” – resultado da dialética entre
consciência discursiva e o inconsciente mediado por valores, crenças, etc.
Recuperando Durkheim de O
Suicídio, Giddens interpreta a agência como aquele fenômeno que acontece,
ou faz acontecer. Enquanto o agente é o perpetrador da agência, ou seja, alguém
que exerce poder ou produz um efeito de ação. Num “efeito acordeão” a ação é relacionada à exterioridade do social
numa relação de composição com a intencionalidade, ou melhor, com a capacidade
de conhecer ou desejar o desfecho interrelacionando o fazer, pretender e o
efeito esperado pela agência. Ainda que considere que consequências não
pretendidas não estariam ao alcance do poder do agente frente a questões de
espaço-tempo.
Nesse sentido, o inglês pontua que “na maioria das esferas
da vida, e das formas de atividade, o âmbito do poder de controle limita-se aos
contextos imediatos de ação ou interação”(p.9). Numa crítica a R. Merton,
Giddens ao avaliar as ações não-intencionais ou impremeditadas aproxima a
intenção da previsão frente a noção de ações imprevistas de Merton. No avanço
de sua crítica ao pensador americano Giddens aponta que as consequências
impremeditadas e as práticas institucionalizadas têm haver com a necessidade (carência)
vistas frente às consequências e condutas irracionais que se atrelam a
superstições irracionalidades ou mera inércia fundamentada pela tradição, são
reflexos de impulsos motivacionais que indicam uma relação dinâmica entre
motivo e intenção. Ainda que considere o “famoso”
argumento contrafactual de Weber, sob a forma do “se” , Giddens reafirma que esta forma da ação é “a consequência
impremeditada de um agregado de cursos de conduta intencional”.(p.10)




