quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Intelectuais: os outsiders e a desestabilização do status quo.


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 – Deve-se distinguir-se os intelectuais, o intelectualismo e a intelligentsia. O pensamento humano, não é moderno europeu ocidental, mas sim a crítica do Ocidente, como demonstrou Edward Said ao observar as relações entre orientalismo, cultura e imperialismo.

“As culturas estão entrelaçadas demais, seus conteúdos e histórias demasiadamente interdependentes e híbridos para que se faça uma separação cirúrgica em oposições vastas e sobre tudo ideológicas como Oriente e Ocidente.”

“Com efeito [...] antes de mais nada, falar de intelectuais precisamente como aquelas figuras cujo o desempenho público não pode ser previsto nem forçado a enquadra-se num slogan, numa linha partidária ortodoxa ou num dogma rígido (...) O que tentei sugerir é que os padrões de verdade sobre a miséria humana e a opressão deveriam ser mantidos, apesar da filiação partidária do intelectual enquanto indivíduo, das origens e de lealdades ancestrais. Nada distorce mais o desempenho público do intelectual do que seus floreios retóricos, o silêncio cauteloso, a jactância patriótica e a apostasia retrospectiva e autodramática (SAID, p. 12, 2005).  
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 – Ao considerar o reconhecimento da “interação entre universalidade e o local, o subjetivo, o aqui e agora” o autor palestino indica que esta mútua influência forma nas “modernas sociedades de massas o homem vulgar, os subúrbios, o gosto, a classe média”, reafirmando que “o terreno social é não apenas diverso, mas muito difícil de negociar”. Cabe ainda apontar que desenvolver trabalho intelectual, ou a vocação intelectual, é ter as escolhas concretas abertas.

“são os intelectuais que deveriam questionar o nacionalismo patriótico o pensamento corporativo e um sentido de privilégio de classe, raça ou sexo (...). Não há regras por meio das quais possam saber o que dizer ou fazer, nem para o verdadeiro intelectual secular há deuses a serem venerados e a quem pedir orientação firme (SAID, p.13,2005).

 “todos os intelectuais representam alguma coisa para seus respectivos públicos, e dessa forma, se auto representam diante de si próprios.”

“Seja uma acadêmico, seja um ensaísta boêmio, ou um consultor do Departamento de Defesa, o intelectual faz o que faz de acordo com uma ideia de representação que tem de si mesmo fazendo essa coisa: pensa em si próprio como fornecedor de conselhos “objetivos” em troca de pagamento, ou acredita que o que ensina aos alunos tem um valor de verdade, ou se vê como uma personalidade advogando uma perspectiva excêntrica, mas consciente?”
                                                                      
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Fica-nos a indagação:

– Onde está a consciência do intelectual?

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SAID, Edward. Representações do intelectual: as Conferências Reith de 1993. Tradução: Milton Hatoum. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

*(Obs.: Informo que, diversamente do livro do qual me ative para as notações acima,  improvisadamente me utilizei da imagem da capa da edição lusa, para o livro de Said editada pela Colibri, organizada pela Maria Teresa Seruya, em 2000.)

Advertência? Pergunte à Teoria...








O complexo paroxismo entre ação, práticas, (estratégias), agência e estruturas busca solução na empiria. Os expedientes da teoria social se estabilizaram durante o século 20 através de diversas formas de observação e análise da vida social, entre outros se destacaram: a Sociologia Figuracional, o Interacionismo Simbólico e a Teoria Crítica. Além de trabalhos notáveis de sociólogos como Anthony Giddens e Pierre Bourdieu, as teorias da Governabilidade, a Sociologia do Risco alcançam projeção no horizonte de uma sociologia da norma.Se do ponto de vista da ciência, a teoria é uma chave de leitura para os problemas sociais, por outro lado, é também uma forma de advertência interpretativa quanto a realidade em observação. Nesse sentido, para o teórico, não basta apenas a familiaridade com autores, mas sim o desenvolvimento de uma relação intima entre teoria e pesquisa. O “estilo” da perspectiva sociológica depende diretamente de implicações teóricas, ou seja, modos de observar e fazer pesquisa. O encontro entre as tradições teóricas com a atividade empírica coloca o sociólogo contemporâneo em dialogo recursivo com esta ou aquela tradição. No reconhecimento da teoria enquanto orientação por meio de planos, modelos, roteiros e formas de olhar o mundo, já que um fenômeno social só é problema sociológico se considerado do ponto de vista uma teoria social. A teoria que ora tomada enquanto ferramenta(?) ora enquanto processo de instrumentalização da razão responde a uma posicionamento a cerca  das relações com os valores e ideologias no contexto de pesquisas cientificas.

A interpretação é um recurso da realidade.



                                                                                                
E como tal, também é objeto de reinterpretações, como o exemplo da história vista de baixo, realizada por E. P. Thompson. O enfrentamento entre a cultura e os costumes, desdobra a singularidade cultural da elite e a pluralidade do povo. Numa crítica a universalidade, o concreto histórico se mostra nem tão concreto assim, em meio as turbas da tradição e da contra-tradição.

Nesse contexto o autor inglês identifica uma forma social característica que ele denomina “economia moral”, encontrada no folclore, na cultura popular, na tradição e na acenstralidade. Argumentando que inclusive motins e saques envolvem questões morais.


Num processo de ressignificação da economia social, apresenta uma interligação entre superestrutura e infraestrutura pela disciplina do trabalho e entende as classes sociais como formação social, ou seja, um fenômeno histórico e cultural.