A única possibilidade
para as ciências sociais é antes uma postura lúcida da “ciência” diante da
cultura; imaginam ter alcançado tal postura os membros do Instituto de Pesquisa
Social, o famoso centro-grupo alemão de atividades de filosofia social para a
investigação do sistema capitalista, mundialmente conhecido como Escola de
Frankfurt, de orientação marxista.
O pressuposto do
pensamento desenvolvido por esta equipe de intelectuais tem por fundamento a
“teoria crítica” construída a partir do que havia de mais genuíno no conjunto
epistemológico e metodológico da obra do também alemão Karl Marx, ou seja,
desde a concepção do materialismo histórico, com as devidas adaptações para o
século XX, quanto o que de mais rico havia nesta obra, a saber, a sua atitude e
potencial de crítica social.
Assim, herdando as
premissas marxianas para o intento de abordar até aquele momento, os meados do
século passado, especialmente os períodos entre 1940 e 1960, o atual estado do
modo capitalista de produção e as formas que assumiam a ideologia, a alienação
nas formas da cultura o desenvolvimento teórico e metodológico, filosófico e
epistemológico do grupo, formado entre outros por Max Horkheimer e Theodor W.
Adorno, legaram para a contemporaneidade visões bastante fecundas sobre a
sociedade e suas complexidades.
Nesse sentido,
gostaria de destacar aqui por ora, a importância destes estudos para as
pesquisas sobre a cultura de massa e as relações entre a arte e a sociedade em
nossa época. A partir da emergência de uma crítica estética, preocupada muito
mais em observar o conteúdo de sentido objetivo da cultura no universo ampliado
do social ao invés de presa a subjetividade dos atores sociais ou aos
interesses de classe, indica um caminho para operar uma reconciliação entre
imaginário e realidade objetiva. Na seara de uma análise que tenta ao mesmo
tempo considerar e superar a crítica paramarxista da cultura, pretendo
demonstrar como é possível integrar a crítica estética à sociologia da cultura
preservando no seu bojo elementos políticos e sociais, construindo assim um
objetivo que transcenda as formas mais conservadas de exposição dos problemas
sociais há muito reduzidas a luta de classes ou outra redução grosseira da
teoria marxiana.
A investigação de
fatos estéticos de forma mais alargada no mundo da cultura devem levar em conta
não apenas os aspectos artísticos, mas também as exigências sociológicas. Para
tanto gostaria de evocar a figura, a mim, modelar de Walter Benjamin, que
também se insere nesse contexto mais de forma bem peculiar. A rigorosidade
acadêmica e a anti-sistematicidade ensaística se fundem, no afã de elaborar um
texto que possa ser compreendido em sua plenitude, mesmo em suas partes. A
totalidade impossível se torna uma medida para articular a complexidade.
Começo a dialogar com
trabalhos dos frankfurtianos, e que isso não confunda a interpretação que venho
a fazer, mas preciso lembrar que “Desafiar a sociedade inclui desafiar sua
linguagem” (ADORNO, Prismas, p.225 apud JAY,
2008, p. 232). É preciso que cada leitor costure o manto de referências, mas
devo precavê-lo, o frio está dentro de nós, não adianta se cobrir. A leitura
depende da capacidade de construção cognitiva do leitor, ou seja, é uma certa
forma de trabalho intelectual metodologicamente orientado para determinada produção de
conhecimento. Assim como Benjamin, penso que algumas pessoas são veículos para
a “expressão de tendências culturais objetivas”. E para tal fim e efeito é
preciso superar o estilo acadêmico normatizado, sustentado por um senso comum
universitário.
Improviso sobre o texto : JAY,
Martin. Teoria Estética e a Crítica à Cultura de Massa. In: A imaginação dialética: história da Escola
de Frankfurt e do Instituto de Pesquisas Sociais, 1923-1950. Tradução Vera
Ribeiro; revisão da tradução César Benjamin. – Rio de Janeiro: Contraponto,
2008.p. 229-280.

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