domingo, 30 de novembro de 2014

A teoria entre a barbárie e o esclarecimento







Refletindo sobre as perspectivas da Teoria Crítica, a racionalidade instrumental e a reprodução simbólica surgem como pontos chave para o entendimento e compreensão desta corrente de pensamento social. A Teoria Crítica Clássica que se constitui em Adorno e Horkheimer nos seus primeiros escritos transforma-se com Habermas na sua face reflexiva alcançada na Teoria da Ação Comunicativa, desdobrando-se na Teoria do Reconhecimento, desenvolvida por Axel Honneth.

As formas da técnica e da Ciência, tomadas enquanto ideologia, como posto por Habermas, complementa os pressupostos da teoria da racionalidade instrumental. O percurso da escola de pensamento alemão opera uma reescritura da dialética num movimento analítico. Observando esse reservatório crítico que é a T. C. os estudos dos frankfurtianos apresentam uma visão alternativa à colonização, numa dimensão crítica.

O esclarecimento de um sistema social marcado pela racionalidade instrumental posto em cheque pela “ação comunicativa”, ou seja, ações políticas no âmbito dos estados democráticos, que permitem a interação entre o “mundo da vida” e o mundo colonizado do sistema burguês marcado pela alienação.  Na lógica das ciências sociais, a teoria organiza a crítica e o interesse, como apontou Habermas no universo da democracia e do direito, assim sociedade civil e política desdobram-se numa mudança estrutural da esfera pública onde emancipação e revolução condicionam a abolição das relações capitalistas.


domingo, 23 de novembro de 2014

Os Elementais da Natureza e da Música - 27 de setembro de 2014



Recife. Setembro de 2014. Ensaio de Sociologia da Imagem e da Música. Arte e Religião. Cultura Estética. Cosmologia Nagô. Um esboço para compreensão da cosmologia africanista no Nordeste do Brasil. Tradução da perspectiva africanista ao perspectivismo negro. Intersecssionismo de tradição e experiência da metafísica ancestral. Observação da dimensão ritual e política, artística e cultural das práticas e estratégias de continuidade histórica da religião africanista e seu animisimo cultural e fetichismo. Apresentação de formas coletivas de sociabilidade do "xamanisno nagô" que é o candomblé, como prática no Nordeste do Brasil, em especial em Recife onde a religião e música são mostras de sistemas complexos múltiplos, transhistóricos, contemporâneos, a um só tempo, modernos e tradicionais, sistemas onde se encontram formas cosmológicas da civilização africana no Brasil. A Noite do Dendê, momento religioso, musical organizado pela Nação do Maracatu Porto Rico, apresentando traços e aspectos do Candomblé Nagô.












sexta-feira, 21 de novembro de 2014

ANTÔNIO CANDIDO ENTRE UMAS E OUTRAS INTERPRETAÇÕES DO BRASIL.

Antonio Candido and Gilda de Melo e Souza, writer and researcher. Portait /Archive: Bobo Wolfelson

O breve ensaio pensa a partir de aspectos da linguagem sociológica presentes na construção da narrativa social da Literatura Brasileira o que nos permite observar os traços que contornam a “comunidade imaginada”, a “autoimagem”, a “nação” e seu ideal de povo e formação histórica. A partir da leitura e reconstrução sócio-histórica da intelligentsia literária do país, numa marcação temporal de longa duração, pode-se perceber o trabalho intelectual do ensaísmo crítico de Antônio Cândido, como aos modos de outros “clássicos” nas Ciências Sociais brasileira, com uma combinação entre vida social e expressão estética. Na elaboração de sentido e uma interpretação para o significado da Tradição Cultural do país fundem-se o pensamento social a teoria e crítica literárias numa busca de noção conceitual e um estilo para a uma ideia de Brasil. Pontuo um dos sentidos mais caros à tradição intelectual no Brasil, os esforços de interpretação no que toca à formação da cultura nacional, a “condensação equilibrada”, como posta por Antônio Candido na imagem do binômio dialético localismo/cosmopolitismo, nos colocam diante da necessidade de ter em predileção os fenômenos de inovação e ruptura como preditivos da atenção do investigador que, com o advento da Modernidade, encontra-se diante de uma Sociedade à mercê de uma Cultura sempre cindida por um lado, por um projeto ideológico das elites e do Estado e por outro, um projeto estético dos artistas e intelectuais na atuação de sua produção cultural

terça-feira, 21 de outubro de 2014

A Mensagem Negra do Mensageiro Branco.






O cinema e as Ciências Sociais se encontram neste documentário enquanto uma maneira de elaborar uma apresentação das formas da Cultura tradicional do nordeste brasileiro e do oeste africano a partir das práticas de reconhecimento das formas da colonização e descolonização numa relação dialética entre o Ocidente e o mundo não-Ocidental. Demonstrando formas de afrocentrismo contra o eurocentrismo, nesta crítica sociológica da ideia de raça tão comum a antropologia colonial clássica, através da identificação de vários elementos desde a alimentação, a vestimenta, a performance, as crenças (elementos da cultura nacional, no Estado-Nação do Brasil e no Benin).

O cinema, assim como livros, fotografias encarnam meios de representações e narrativas que contam uma história. No nosso caso, o filme sobre o fotografo francês narrado por Gilberto Gil com base em seu “diário de campo”, cantando com sua a voz as palavras do próprio Verger. Encontramos aí uma narrativa sociológica de um diário que constrói a imagem de um babalaô – Pierre “Fatumbi” Verger.

Em Salvador e sua nostalgia, o encanto ritual pela cultura afro-ameríndia brasileira, luso tropical. A partir de 1946, quando vem à Bahia pela primeira vez e escreve, a Bahia tinha um “charme”. Os sobrados coloniais para as lentes da rolleiflex, imersa num estado de boêmia e relações sociais com terreiros de candomblé, o Opô Afonjá, principalmente, e figuras da vida baiana como Jorge Amado, Carybé, Mãe Senhora de Oxum, entre outros. O xangô de Fatumbi estava no seu Odu: “tudo é o odu da gente, a gente num foge dele”. 

O encontro com as entidades espirituais, os voduns, os orixás, os “encantados em fragmentos da natureza” que compõem o mundo do candomblé e os poderes mágicos da religião e sua capacidade em manter identidade e fé, ou seja, seu poder de eficácia simbólica. Nessa busca pela compreensão dos orixás, Verger vai à África, mais especificamente ao Benin, no Reino do povo Ketu, ao tornar-se filho de santo na Bahia, com a cabeça consagrada a Xângo, por Mãe Senhora.

Toma-se conhecimento de tudo isso através do seu diário “de campo”, sua verve antropológica, etnográfica, etnológica e fotográfica, se mesclava a sua veia espiritual e metafísica em regime de transfiguração étnica e cultural em direção ao ethos daqueles oriundos dos descendentes de Alaketu. Vê-se no filme o cotidiano de um “habitus” afro-brasileiro incorporado no homem de santo que agora depois de feito o borí, vestia seu colar vermelho e branco de xângo.

Gilberto Gil corre os continentes, entre América, Europa e África pra reconstruir essa trajetória. Através da música, dança, imagens e principalmente a religião afrobrasileria. As descrições sobre as relações de Verger com a cultura negra seja no Brasil ou no Benin é tudo interpretado e apresentado por um ponto de vista etnográfico, acerca dos aspectos de formas culturais não ocidentais.

A adivinhação pelo ifá, a iniciação aos rituais, o tornar-se Fatumbi (“nascido de novo graças ao ifá”) como se tornou Verger, um africano em “corpo” europeu, como uma “dupla consciência” na acepção dada por P. Gilroy na sua noção de Atlântico Negro. Nesse sentido, o filme nos apresenta uma África lírica e uma descrição de um ethos cosmopolita e móvel de um cidadão ocidental no mundo negro da religião afro brasileira em regimes de aproximação e distanciamento com o pathos africano nativo, do oeste, cultivado pelo povo de Ketu.

O axé é tomado e apresentado no filme, em vários momentos, como o elo dado sob o mar que alinha as forças espirituais e sócio-culturais, mística e religiosa, metafísica e ontológica da natureza e suas forças com a dinâmica humana no capitalismo da modernidade ocidental. Assim, o trânsito, o tráfego, não só de suas imagens os continentes, mas também a “transfiguração étnica” entre os costumes e crenças, a mobilização de conhecimento da África negra por um francês é uma mostra do lugar da magia, do ritual, através de uma sócio-antropologia visual, cultural e simbólica para a compreensão do fenômeno da continuidade histórica entre África e o Brasil.

Destaca-se a bibliografia de Verger, inclusive sobre a chegada dos povos africanos ao Brasil, como encadeamento histórico das guerras entre os povos Yorubás (Nagôs) com os Fon do reino de Abomei e em seguida dos Fon com o povo Ketu, organizando a cadeia escravista na sucessão dessas guerras tribais onde os derrotados eram vendidos aos europeus para o tráfico, em sua forma mercantilista, racional e econômica de um comércio com Cuba, Haiti e o Brasil principalmente. Verger indica também que a escravidão cumpriu um papel de estabelecimento dos “Estados” que foram se formando a partir destes povos. Entre postos, portos, a importância da figura dos traficantes de escravos como Francisco Félix de Souza, o baiano Xaxá, como exemplo; além do retorno de africanos, ex-brasileiros para o Benin, como pode ser observado também em “A Rota do Orixás”, são elementos para uma discussão proposta pelo documentário, Pierre Verger Mensageiro entre Dois Mundos, de Luís Buarque de Holanda, que com trilha sonora de Naná Vasconcelos nos transporta pela travessia franco-afro-tropical.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Pressupostos numa outra ordem de ser/estar em Sociedade


A noção que temos de individuo advêm de um paralelo contrario que é feito com um outro conjunto de coletivos e tipos humanos divergentes em seus pontos de vista sobre a cosmogonia adotada e/ou a coleção de costumes e/ou hábitos  reproduzidos por aquele determinado agrupamento social.

Nesse sentido a experiência individual em sociedade revela a formação de paradigmas e projetos de representação tanto no campo do simbólico quanto da percepção material. De tal forma observa-se um modelo de reprodução do comportamento e tipologia social fundado na ideia do culto, ou seja, do cultivo de determinados hábitos a serem alicerçados sobre fortes bases ideológicas apoiadas na superestrutura política, econômica e principalmente na função de adestramento social desempenhado pelos estabelecimentos de educação, institutos militares entre outros de formação acadêmica e institucional.

Assim, determinamos as bases antroposociopoliticas da cultura como vértice centralizador da organização societal e ao mesmo tempo pólo centralizador das tendências humanas.

A cultura manifesta-se de diversas maneiras nos clãs e nas suas relações de parentesco, e além é claro que numa escala maior também se analisarmos um país no tocante a língua ou até mesmo um continente como no caso da porção de terra a que pertencem estes indivíduos.


Lançando então os olhos sobre a tradição e percebendo na perpetuação dos costumes a consolidação de uma adequação do sujeito a uma arquiteturação social condicionada e dirigida aos interesses dos grupos mais tradicionais.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Aviso Maia

Apontamento solto
                                                           – A Reinvenção do último milênio

O homem caminha sobre a linha do tempo e da cultura, na corda bamba da ciência e dos seus conceitos pré-conceituados, entre a angústia da influência e a necessidade de originalidade e primazia, nas fronteiras entre o metafísico e o que chamamos realidade. A partir da convicção da hibrida relação dos indivíduos inter e intra-subjetiva, apreende-se que o conjunto de cosmologias e cosmogonias tão diferentes produzidas por diversas culturas e díspares costumes propõem a reflexão da implosão da hegemonia da sociedade ocidental.

Em séculos que a verdade vive a ser absoluta, a realidade tão arbitrária, a natureza furiosa quão violenta, o estado ainda mais autoritário quanto repressivo e as portas para a transcendência obnubiladas pela hegemonia da reprodução, a sociedade esse ente hibrido por não dizer complexo, embriaga-se no consumo e vislumbra, na vigília entre o prazer e o luxo, os escombros de toda a ruína metodicamente culturalizada nas estantes e prateleiras universais de toda a materialidade da produção intelectual hodierna.   

É o momento em que o indivíduo descobre que o marco do seu estar na terra é usufruto de sua natural organicidade a mesma, e o homem, possivelmente, o exemplar mais bem acabado da natureza, quiçá dizer, prova cabal da expansão e desenvolvimento intelectual, e o que é mais importante, num processo de alargamento e expressão coletiva, desde o tempo dos clãs e das tribos, das sociedades onde os livros ainda não existiam, eram e continuarão sendo as formas de organização e modos de produção social grupista que conseguiram o êxito de se perpetuarem.

Desde a matriz antropológica mais ancestral, sejam os aborígines na Austrália ou mesmo, o profético povo Maia do continente americano, até a época vigente entende-se o principio axiomático da existência humana como a relação direta entre a vida e suas lacuna então supridas por respostas metafísicas e existenciais, mas que por sua vez logravam êxito no organograma social, pois que sua ação e difusão nas consciências são realizadas através do sistema de representação do simbólico como no caso dos totens. Que são expressões ou caracteres sociais que permitem ao sujeito coletivo determinado entendimento do real – representado na cultura – e suas manifestações na perspectiva do indivíduo.

  Bispar o crepúsculo pela fenda de uma sabedoria que é a ilusão de que qualquer um dos homens possa explicar a vida ou ser deus se acaso ele existisse; nesse momento o indivíduo encontra-se com as fronteiras do infinito, o todo anterior é proibido, só talvez um último reflexo fugindo do espelho em estilhaços da modernidade, desta malfadada projeção do desenvolvimento humano, neste momento, onde a onda se erige e se parte, e se recente de não haver sido. Pois que, ainda que o artista pereça diante da arte, uma ação intelectual só pode ser combatida com outra, enquanto a multidão semi-infinita de homens que se proliferam pelo planeta, não se apercebe de que a última das máximas da condição humana tende a ruir.

O civilizar-se, isto é, tomar para si do corpus social as mais diversas e plurais influências, é parte do projeto de funcionamento da sociedade, pois que esta possui um fim em si mesma, propiciadora das circunstâncias, predecessora do arquiteto, esse ente inerente a essência humana, o que de sobremaneira determina o limite das interações societais e do individuo a mercê de si. Assim o solipsismo comanda a fundação de cada personalidade em si, do descobrimento do eu pelo indivíduo, e sem pestanejar apostaria que é a representação mais aguda da nossa forma de organização social atual, narcisista e sistematicamente individualista. Tendo como pressuposto este desolador cenário, o epílogo só poderia se constituir de um monólogo sem sombras, mas com certeza repleto de fantasmas e incontáveis espelhos que se refletem.

Não obstante, a razão que o esforço precede e produz o pensamento, tal qual antecede à prosa, a poesia, arte imarcescível e indubitável esboço da busca pelo estratagema social mais adequado para a explicação dos fenômenos sociais, assim como a arte das palavras na sua operação obscura “entre o ser e o nada” desfaz ecos entre o individuo e seu outro contido, permite que através do desvelamento das combinações e o rearranjo das probabilidades, ocorra um eqüidistante paralelo estrutural entre a articulação da linguagem e sua representação com o todo circundante.

 A mediação entre a ordem e a operação, é o princípio heurístico no qual o leitmotiv antroposociológicos, econopolíticos e transculturais se resguarda na consubstanciação das cores da época em suas diversas matizes e seus mais diversos aspectos, que recolhidos a um canto da racionalização descolam a consciência fazendo-a decolar em direção a eternidade do indivíduo em sua infinita finitude, descontinua, decomposta entre a última estrela que caiu, e o fio de luz que se escorre do crepúsculo. 


A humanidade destrói/transforma a natureza para torná-la na contracorrente da ordem, erigindo o caos anterior para reconstruí-la num plano superior.  À desestruturação operada no corpus social pela figura do intelectual precede uma reestruturação de uma nova ordem. A atual influência gravita em torno do ser-se a civilização, de balizar a alegoria social em habictus, e reproduzir seus costumes e crenças, é construir-se em bases outras se alheando num per si sem sentido que no “eu”, prenhe de outros tantos, instaura-se a “persona coletiva” e suas multifacetas ante as  interfaces do paradigma societal contemporâneo.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Intelectuais: os outsiders e a desestabilização do status quo.


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 – Deve-se distinguir-se os intelectuais, o intelectualismo e a intelligentsia. O pensamento humano, não é moderno europeu ocidental, mas sim a crítica do Ocidente, como demonstrou Edward Said ao observar as relações entre orientalismo, cultura e imperialismo.

“As culturas estão entrelaçadas demais, seus conteúdos e histórias demasiadamente interdependentes e híbridos para que se faça uma separação cirúrgica em oposições vastas e sobre tudo ideológicas como Oriente e Ocidente.”

“Com efeito [...] antes de mais nada, falar de intelectuais precisamente como aquelas figuras cujo o desempenho público não pode ser previsto nem forçado a enquadra-se num slogan, numa linha partidária ortodoxa ou num dogma rígido (...) O que tentei sugerir é que os padrões de verdade sobre a miséria humana e a opressão deveriam ser mantidos, apesar da filiação partidária do intelectual enquanto indivíduo, das origens e de lealdades ancestrais. Nada distorce mais o desempenho público do intelectual do que seus floreios retóricos, o silêncio cauteloso, a jactância patriótica e a apostasia retrospectiva e autodramática (SAID, p. 12, 2005).  
                                                                                               ***

 – Ao considerar o reconhecimento da “interação entre universalidade e o local, o subjetivo, o aqui e agora” o autor palestino indica que esta mútua influência forma nas “modernas sociedades de massas o homem vulgar, os subúrbios, o gosto, a classe média”, reafirmando que “o terreno social é não apenas diverso, mas muito difícil de negociar”. Cabe ainda apontar que desenvolver trabalho intelectual, ou a vocação intelectual, é ter as escolhas concretas abertas.

“são os intelectuais que deveriam questionar o nacionalismo patriótico o pensamento corporativo e um sentido de privilégio de classe, raça ou sexo (...). Não há regras por meio das quais possam saber o que dizer ou fazer, nem para o verdadeiro intelectual secular há deuses a serem venerados e a quem pedir orientação firme (SAID, p.13,2005).

 “todos os intelectuais representam alguma coisa para seus respectivos públicos, e dessa forma, se auto representam diante de si próprios.”

“Seja uma acadêmico, seja um ensaísta boêmio, ou um consultor do Departamento de Defesa, o intelectual faz o que faz de acordo com uma ideia de representação que tem de si mesmo fazendo essa coisa: pensa em si próprio como fornecedor de conselhos “objetivos” em troca de pagamento, ou acredita que o que ensina aos alunos tem um valor de verdade, ou se vê como uma personalidade advogando uma perspectiva excêntrica, mas consciente?”
                                                                      
                                                                                            ***

Fica-nos a indagação:

– Onde está a consciência do intelectual?

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SAID, Edward. Representações do intelectual: as Conferências Reith de 1993. Tradução: Milton Hatoum. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

*(Obs.: Informo que, diversamente do livro do qual me ative para as notações acima,  improvisadamente me utilizei da imagem da capa da edição lusa, para o livro de Said editada pela Colibri, organizada pela Maria Teresa Seruya, em 2000.)

Advertência? Pergunte à Teoria...








O complexo paroxismo entre ação, práticas, (estratégias), agência e estruturas busca solução na empiria. Os expedientes da teoria social se estabilizaram durante o século 20 através de diversas formas de observação e análise da vida social, entre outros se destacaram: a Sociologia Figuracional, o Interacionismo Simbólico e a Teoria Crítica. Além de trabalhos notáveis de sociólogos como Anthony Giddens e Pierre Bourdieu, as teorias da Governabilidade, a Sociologia do Risco alcançam projeção no horizonte de uma sociologia da norma.Se do ponto de vista da ciência, a teoria é uma chave de leitura para os problemas sociais, por outro lado, é também uma forma de advertência interpretativa quanto a realidade em observação. Nesse sentido, para o teórico, não basta apenas a familiaridade com autores, mas sim o desenvolvimento de uma relação intima entre teoria e pesquisa. O “estilo” da perspectiva sociológica depende diretamente de implicações teóricas, ou seja, modos de observar e fazer pesquisa. O encontro entre as tradições teóricas com a atividade empírica coloca o sociólogo contemporâneo em dialogo recursivo com esta ou aquela tradição. No reconhecimento da teoria enquanto orientação por meio de planos, modelos, roteiros e formas de olhar o mundo, já que um fenômeno social só é problema sociológico se considerado do ponto de vista uma teoria social. A teoria que ora tomada enquanto ferramenta(?) ora enquanto processo de instrumentalização da razão responde a uma posicionamento a cerca  das relações com os valores e ideologias no contexto de pesquisas cientificas.

A interpretação é um recurso da realidade.



                                                                                                
E como tal, também é objeto de reinterpretações, como o exemplo da história vista de baixo, realizada por E. P. Thompson. O enfrentamento entre a cultura e os costumes, desdobra a singularidade cultural da elite e a pluralidade do povo. Numa crítica a universalidade, o concreto histórico se mostra nem tão concreto assim, em meio as turbas da tradição e da contra-tradição.

Nesse contexto o autor inglês identifica uma forma social característica que ele denomina “economia moral”, encontrada no folclore, na cultura popular, na tradição e na acenstralidade. Argumentando que inclusive motins e saques envolvem questões morais.


Num processo de ressignificação da economia social, apresenta uma interligação entre superestrutura e infraestrutura pela disciplina do trabalho e entende as classes sociais como formação social, ou seja, um fenômeno histórico e cultural. 

terça-feira, 26 de agosto de 2014

A imaginação é a razão emancipatória?







As quartas, frequento um grupo de estudos em teoria crítica. Trazem a baila: emancipação e liberdade, contra dominação e justiça. Em busca de um diagnóstico da sociedade na história; de um prognóstico, em desenvolvimento no tempo, para superação dos obstáculos e transformar o real.

– Onde estão os portadores da racionalidade emancipatória? – pergunta o Professor Jorge Adriano  Lubenow, indicando uma crise na crítica.

– Eu então disse: ora, se não com os indígenas e quilombolas, a sabedoria popular, tradicional, os mestres, griôs, etc ... E essas práticas (momentos em que a teoria pode ser apercebida no real)  tem como resultante embates e conflitos.


– E o método da teoria crítica? Filosófico ou Sociológico? “o concreto pensado”?                                            
O Instituto, a Revista, os Pensadores, a História e, principalmente, a Leitura e a "imaginação dialética"  são o método da Escola de Frankfurt.

“Duelo y Literatura”, Idelber Avelar.



                                                     A palestra pode ser ouvida aqui.
                                         

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Da empíria foi extraída a teoria, todo o outro é memória.(1ª Parte)

Em março deste ano tive conhecimento, através do espaço espanhol ssociologos,   de uma entrevista que o sociólogo inglês Anthony Giddens concedeu a  Marina Artusa, em Bologna.

É este abaixo o título do matéria:

"Europa no cree en ilusiones 
Ciencia política. Anthony Giddens analiza en esta entrevista los desafíos que enfrentan Latinoamérica y Europa para instrumentar un estado de bienestar.

O artigo havia sido publicado na página da Revista de Cultura, na sesseão Ideas, do periódico argentino Clarín. Datação de  06/03/14. Que pode ser lida aqui. 

Segue um excerto: 

En América Latina uno ve marchas en las calles y lo mismo ocurre en Europa. Tenemos que ver, además, hacia dónde va a ir la economía mundial. A Brasil le estaba yendo muy bien, aunque ahora ya no tanto; 

“as máquinas han entrado en nuestra personalidad. (...) Imagínese lo terrorífico que es eso. Es como si la ciencia ficción hubiera sido copada por la realidad. Es imponderable. Ya no se puede utilizar más el pasado como guía para el futuro.”

Pero no creo que lo narrativo tenga significado alguno.

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POR ENQUANTO, COM VISTAS À TEORIA...

Depois de reconhecer a Lógica Social do Espaço-território em que a sociologia acontece, acredito que caiba bem aqui abaixo dessa entrevista, um passar de vistas sobre a um prisma de sua obra. Começo com a primeira parte dos comentários sobre a leitura ausente. Comento uma obra que muito me intriga no conjunto dos trabalhos de A. Giddens. Em A Constituição da Sociedade (1989), o pensador social inglês desenvolve um intrincado complexo interpretativo entre as noções de estrutura social e instituições sociais sob a visão de uma Sociologia Política de fundo psicossocial que desemboca em sua Teoria da Estruturação. Para discutir a dualidade entre agência e estrutura o autor aponta que os “atores internalizam, como motivos, os valores compartilhados de que depende a coesão social.”

Na busca por maiores explicações Giddens se justifica da seguinte forma: “O pedido de uma explicação da ação acaba fundindo-se com a exigência de ligar uma teoria “psicológica” de motivação com uma “interpretação” sociológica das características estruturais de sistemas sociais.”

Nesse intuito a noção de cognoscitividade é aproximada da definição de uma ontologia do ser social, enquanto característica constitutiva da vida em sociedade. Numa crítica a Parsons e seu funcionalismo, o inglês o baseando-se em Luhmann e Habermas, aponta no americano um consenso de valores na ordem simbólica sustentado numa visão evolucionista e biológica.

Na apresentação dos elementos de sua teoria da estruturação, diferencia as formas do funcionalismo, estruturalismo das outras sociologias hermenêuticas, aproximando as primeiras de um naturalismo que visa um objetivismo tomando a biologia como modelo na esteira de Comte numa “guia para conceituar a estrutura e o funcionamento de sistemas sociais, assim como para analisar processos de evolução via mecanismos de adaptação”. (p.1)

 Ainda que Giddens desconsidere Levis-Strauss como evolucionista, assevera que “a homologia entre ciência social e ciência natural é primordialmente cognitiva, na medida em que se supõe que cada uma expressa características similares da constituição global da mente” (idem). Sobre a hermenêutica, de origem naquele humanismo preconizado por Dilthey, o autor nos diz: “a subjetividade é o centro previamente constituído da experiência de cultura e história, e como tal fornece o fundamento básico das ciências sociais e ou humanas” (idem). Fechando o raciocínio com os binômios do mundo material e subjetividade, vistos sob noções de causa e efeito e mistério e residual, respectivamente.

Assim essa epistemologia que “nas sociologias interpretativas é concedida primazia a ação e ao significado na explicação da conduta humana; os conceitos estruturais não são notavelmente conspícuos e não se fala muito de coerção” (p.1-2) Logo, essa ontologia da ação frente ao funcionalismo/estruturalismo revela que “a questão é como os conceitos de ação, significado e subjetividade devem ser especificados e como poderiam ser relacionados com as noções de estrutura e coerção”(p.2) Onde a estruturação são “práticas sociais” ordenadas no espaço e no tempo”.

Essas práticas, atividades recursivas (recriadas) são os moventes dos atores e agentes em ação social. Nesse sentido, cognoscitividade “é a forma especificadamente reflexa da cognoscitividade dos agentes humanos que está mais profundamente envolvida na ordenação recursiva das práticas sociais” (idem). É claro que ao indicar essa espécie de ordenação Giddens nos faz pensar em alguma forma de estrutura.

No entanto, ele segue em sua exposição “logo, a “reflexividade” deve ser entendida não meramente como “autoconsciência”, mas como o caráter monitorado do fluxo contínuo da vida social” (idem). Categorias como “propósito”, intenção, motivo, razão, voluntarismo hermenêutico são utilizados para a “contextualidade espaço-tempo”, indicando a razão enquanto um processo e um estado.

A consciência é vista a partir de conceitos como “durée”/”self” – momento discursivo da atenção – no sentido de permitir que “uma ontologia de tempo-espaço como constitutiva de práticas sociais é básica para a concepção de estruturação, a qual começa a partir da temporalidade e, portanto, num certo sentido da história.”

Com o despertar do processo de “racionalização da ação” envolto em intencionalidade e rotina o estado de “co-presença” indica o entendimento da interação enquanto o instante de avaliação da competência. Se as normas formam fronteiras factuais passíveis de manipulação e abrem espaço para a dissimulação da razão, Schultz é evocado para configurar a visão sobre o conhecimento socialmente incorporado, enquanto estoque de conhecimento mútuo.

De forma que a “estratificação do self atuante” enquanto dimensão inconsciente se apresenta como lugar do encontro (jogo) da consciência discursiva e da consciência prática. Numa crítica a Freud, Giddens indica que a visão freudiana “não deixa capo suficiente para a operação das forças sociais autônomas”. Ou seja, “o inconsciente inclui aquelas formas de cognição e de impulsão que estão ou totalmente impedidas de consciência ou somente aparecem na consciência de formas distorcidas.” (p.4)
Frente a uma noção não muito clara de profundidade, ou abismos, no interior da “história de vida do ator individual” a operação de forças sociais autônomas seria mediada pelo “nível de controle dos agentes sobre a própria conduta” o que pode ser observado pelo grau de interação e integração ordenada pelas instituições socialmente reconhecidas e coletivamente compartilhadas.



O AGENTE; A AGÊNCIA

O monitoramento das práticas sociais, sob a visão da rotina – cotidiano – dando margem ao entendimento teórico de um contínuo histórico. Essa monitoração reflexiva, tomada como racionalização da ação articula razão, motivo e necessidade, a partir do potencial derivado da noção de projeto de Schultz. Partindo em direção da consciência prática por meio de uma Fenomenologia e Etnometodologia, voltada para a Filosofia da Linguagem na observação da socialização e da aprendizagem chega a considerar barreiras (repressão) entre consciência discursiva e o inconsciente. A modelagem freudiana (id-ego-superego) é entendida sob o prisma: eu-mim-tu. Onde o mim é uma expressão da “consciência moral” – resultado da dialética entre consciência discursiva e o inconsciente mediado por valores, crenças, etc.

Recuperando Durkheim de O Suicídio, Giddens interpreta a agência como aquele fenômeno que acontece, ou faz acontecer. Enquanto o agente é o perpetrador da agência, ou seja, alguém que exerce poder ou produz um efeito de ação. Num “efeito acordeão” a ação é relacionada à exterioridade do social numa relação de composição com a intencionalidade, ou melhor, com a capacidade de conhecer ou desejar o desfecho interrelacionando o fazer, pretender e o efeito esperado pela agência. Ainda que considere que consequências não pretendidas não estariam ao alcance do poder do agente frente a questões de espaço-tempo.


Nesse sentido, o inglês pontua que “na maioria das esferas da vida, e das formas de atividade, o âmbito do poder de controle limita-se aos contextos imediatos de ação ou interação”(p.9). Numa crítica a R. Merton, Giddens ao avaliar as ações não-intencionais ou impremeditadas aproxima a intenção da previsão frente a noção de ações imprevistas de Merton. No avanço de sua crítica ao pensador americano Giddens aponta que as consequências impremeditadas e as práticas institucionalizadas têm haver com a necessidade (carência) vistas frente às consequências e condutas irracionais que se atrelam a superstições irracionalidades ou mera inércia fundamentada pela tradição, são reflexos de impulsos motivacionais que indicam uma relação dinâmica entre motivo e intenção. Ainda que considere o “famoso” argumento contrafactual de Weber, sob a forma do “se” , Giddens reafirma que esta forma da ação é “a consequência impremeditada de um agregado de cursos de conduta intencional”.(p.10)

à crítica forma e a forma da crítica.




E toda tradição manifesta-se através de uma cultura. Cultura que envolve relações de poder e desigualdade. Alguém na sala se lembra do livro “ O que é Cultura” de José Luis dos Santos, Eu em silêncio penso naquele livro do Laraia ou na Dialética da Colonização de Alfredo Bosi. Sandroni é mencionado por acaso.

Cultura, espírito. 

A barca, o coco, o cavalo marinho, o maracatu, a Biblioteca do Congresso dos EUA, o Centro Cultural São Paulo; cultura- agricultura. Cultura popular tradicional (noção bem curiosa). O dó de peito, uma dissonância consoante contemporaneamente compartilhada na experiência social. Através da cultura se retorna a natureza. Cruzando as esferas do volk, cultura e arte, atinge-se um saber que possa aproximar os homens. Como uma pedra filosofal do elo perdido entre a os homens e sua identidade com a humanidade, é a crise do paradigma do humanismo, o maquinismo do esquecimento.

              Daí que chamo atenção para fatores como o narrador, quem narra a cultura? Onde está a narrativa das formas sociais da modernidade?

[Quem faz da academia e da ciência um projeto social, deixa de lado os fundamentos do trabalho intelectual.]


              Hegemonia e repressão, convencimento e violência. A ideologia dominante (racionalismo, religião e racialismo) esqueceu-se humanismo, e a lembrar de ter memória. Assim combate o pensamento crítico com qualquer ensaio sobre o eu e qualquer assunto; é sempre uma porta aberta o que diz. Por isso é mister estar atento à crítica forma e a forma da crítica.