quinta-feira, 12 de março de 2015

The voice of shaman, The New York Review Books. Tradução (1ª parte)

Desabamento do Céu, Claudia Andujar entre os Yanomami.
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A voz do xamã¹

A queda do céu (The falling sky),  livro escrito pelo xamã yanomami Davi Kopenawa e o antropólogo francês Bruce Albert, tomou este título de um mito de criação dos yanomami que vivem na fronteira entre o Brasil e a Venezuela. O mundo primordial foi esmagado por um colapso do céu, lançando com forças estes habitantes para o submundo. A volta do céu anterior transformou a floresta onde ressurgiu o povo yanomami, e onde continua nos dias de hoje. Ele ainda liga a floresta “ao velho céu”. O novo céu foi erguido, realizado no lugar por fundações de metais profundamente colocadas na terra pelo demiurgo Omana (entidade anímica).Ainda o novo céu está sob constantes ataques pelas forças do caos e o incansável trabalho dos xamãs yanomami com os espíritos aliados, os xapiri, para evitar um novo apocalipse. Um terceiro céu diáfano já espera, no alto, no caso de ocorrer um colapso e o mundo mais uma vez venha a ter um fim.

Em números de aproximadamente de 33.000, os yanomami estão em uma das maiores sociedades indígenas da Amazônia, ocupando um vasto território concentrado na montanha Parima dividindo a Amazônia a partir da bacia de Orinoco. Isolados até o início do século 20, os primeiros contatos regulares com missionários e agentes do governo brasileiro começam entre 1940 e 1960. Estas relações quebraram-se quando ferramentas de metal e outros comércios desejados como bom se dão, bem como uma fatal doença epidêmica.

Nos anos de 1970, o governo brasileiro começa cortando a perna norte da Transamazônica, causando desflorestamento e novo distúrbio para a vida yanomami. A transamazônica e sua construção foi abandonada depois de vários anos, mas uma enorme corrida do ouro nos meados de 1980 infligiu tremendo sofrimento e devastação ecológica. Em 1992, campanhas internacionais através de antropólogos e indígenas e organizações não governamentais resultaram na demarcação de um território contiguo para os yanomami totalizando 192,000 km²(tão grande quanto a Florida) compartilhado entre o Brasil e a Venezuela. Ambos autores deste livro, Kopenawa como porta-voz internacional yanomami e Bruce Albert como cofundador da ONG CCPY (Comissão Pro-Yanomami), foram figuras centrais nesta importante vitória, e ambos permanecem atuando em uma luta contínua contra a mineração e outras ameaças.

A queda do céu é várias coisas. É a autobiografia de Davi Kopenawa, um dos mais proeminentes e eloquentes líderes indígenas brasileiros. É a mais vívida e autêntica descrição do xamanismo filosófico (filosofia xamânica) que eu já li. É também um apaixonado apelo pelos direitos dos povos indígenas e uma mordaz condenação do perigo forjado por missionários, mineradores de ouro e a ganancia dos homens brancos (nhabebe). As notas de rodapé sozinhas abrigam monografias sobre a botânica e a zoologia, mitologia, ritual e história yanomami.


(...)

To be continued

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Para ouvir o canto xamânico de Davi Kopenawa clique aqui.

[1] O xamã Davi Kopenawa da aldeia Yanomami de Demini, resolveu no final dos anos 70 se aproximar da FUNAI ocupando um posto avançado num quartel para o abandono do projeto da estrada Perimetral Norte, através do território Yanomami, no estado de Roraima, Brasil, em abril de 2014; fotografias por Sebastião Salgado: Genesis está no International Center of Photography, New York, até 11 de janeiro de 2015. O Catalogo é editado por Leila Wanick Salgado e publicado por Taschen.

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