sexta-feira, 13 de março de 2015

Em busca de um novo começo




O filme Apocalypto (2006), lido por uma perspectiva antropológica apresenta a tentativa de reconstrução da situação dos regimes de sociabilidade na América pré-hispânica, como a ideia de coletivo e liderança, além dos conflitos inter-étnicos entre diversos grupos. São representados no filme processos de expansão, invasão, domínio, conquista, prisão e feitura de escravos de um segmento da civilização Maia, em regime de contraste com outros clãs, hordas de caçadores e coletores que vivem no interior da floresta.

Um cortejo de indígenas em busca de “um novo começo” ilustra o que pode ter sido os estímulos para as ideias de salvação e “terra sem mal” que tanto descreveu Pierre Clastre, sobre os Mai e os karaíba, além da crítica ao “um” – ou seja, ao Estado. A diferença de poder durante os conflitos podiam decorrer do apuro e dominação com as ferramentas bem como as técnicas e estratégias de combate.

As práticas de reunião com anciãos, antepassados e seus costumes ancestrais – o xamanismo, o totemismo e o sacrifício precedem a relação sócio-cosmológica da morte com a floresta, além do diálogo da mitologia ameríndia com a natureza, em especial os animais com o Jaguar, por exemplo. No momento de conflito: desespero, outra ordem é erigida, suspensão da norma, violações éticas e morais de um povo, violência física. A partir do contato–atrito em contraste é preciso aprender com as crianças a refazer o caminho e reforçar a consciência das necessidades do coletivo num regime de sobrevivência em condições adversas e socialidades desestruturadas.

O que nos deixa dizer, sobretudo, que ali já há história já, e se pode perceber o discurso, a ideologia na relação entre o líder, o povo e os deuses. Do ponto de vista anímico o Jaguar é um símbolo com eficácia simbólica bem relevante para os processos de identificação na mediação entre o realismo objetivo da história material e o simbolismo mítico do subjetivismo cosmológico.

“A alma dela está a sua espera aos pés da árvore da vida”

Haviam os leprosos, os que possuíam a doença e sofriam da rejeição coletiva, do isolamento e ao ostracismo. O medo, a hora sagrada, da escuridão do dia, que põe fim do céu e faz desaparecer a Terra e leva o fim ao mundo ameríndio. A profecia cumpre a função discursiva, narrativa dos jogos de poder através de uma semiologia entre representações e rituais.

A criação do mito se faz a partir da invenção e de comunhão entre homem e natureza numa temporalidade marcada pela diferenciação espacial/geográfica, como se pode observar na construção da naturalização da sociedade. Fica-nos a pergunta: “O que são eles?” e uma primeira resposta nos traz o filme: “eles trazem homens”.

– Mas se a sociedade não existe e é apenas uma abstração, o que é a civilização?                         – Bandeiras, barcos, tecnologias, cruz, espada, deus? Ou vingança?




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